Uma árvore, uma raiz a expandir-se, o caule a crescer, as folhas instaladas e as flores. As flores que depois dão o fruto. As flores que representam o inicio e dão origem ao fruto. Será que uma árvore se sente feliz quando nasce o fruto? Será que se sente completa?
Agora sim, assentei nesta terra boa, e com alguma perícia das minhas flores dei origem ao fruto. E agora quero ficar com ele, porque ele veio até mim.
Mas será que pode? Será que é seu para ficar com ele? Não será ilusão?
Certo que o fruto é efectivamente fruto de algo. Talvez trabalho. Talvez astúcia, enredo.
Mas será seu?
Sim é meu. Não vês como está sempre comigo? Não vês que não importa por quanto as minhas folhas dancem, o meu querido fruto continua comigo? Não sabes que só me quer a mim? Que só tem olhos para mim?
Será que tem?
A mim parece-me presunção. Excesso de confiança.
Porque todos sabemos que o fruto vai cair. Vai-se libertar, ser livre.
Será que cai porque quer? Será que cai porque a árvore que outrora lhe sabia a casa deixou de assim o fazer? Será que precisava de algo mais?
Mas que mais poderia querer? Que mais poderia eu dar a este fruto? Não entendo. Será que não vi? Será que não me apercebi? Se calhar estava demasiado preocupada em admirar o meu feito do que a cuidar dele. Talvez me tenha centrado em mim. Na segurança que era meu. Não vi acontecer. E agora é tarde.
Afinal não era da árvore. Nunca foi. Era posse temporária.
Era ilusão que tudo estava feito e perfeito.
A árvore tinha uma ideia. Aquele fruto era seu e pertencia-lhe, ou assim pensava ela. E enquanto pensava, não via o quanto se enganava.
Sim, tens razão. Nada é de nada. Se ao menos tivesse prestado mais atenção, eu devia ter percebido isso. Agora lá vai o meu belo fruto. Na minha cabeça assim o eras, garantido. Deixei-te fugir.
E agora és livre.
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